Vendedor e Sneakerhead ou Sneakerhead e Vendedor?
Às vezes ser vendedor de uma sneakershop é o sonho de jovens que gostam de tênis. Para falar sobre isso, fui convidado pelo meu amigo Vinicius Brandão e pela Sneaker Cult a contar para vocês um pouco da minha história e de como é a vida de um vendedor no dia a dia.
Para começar, nada melhor que me apresentar. Sou o Leônidas da Silva (@leonidas_silva), tenho 32 anos e atualmente vendedor em uma das flagships (termo utilizado para a principal loja de uma rede) da Artwalk, loja do shopping Metro Tatuapé.
Antes de tudo, minha relação com os tênis começou nos anos 90 pelo simples fato de andar de skate e, naquela época, skate e basquete influenciavam muito do que se vivia pelas ruas das periferias. Além disso, acompanhar o meu grande Chicago Bulls nas madrugadas da Band pela TV e ver Michael e sua equipe realizarem todos os feitos inacreditáveis contou muito para me tornar um chamado Sneakerhead!
Daí vem meu principal gosto quando se trata de tênis, AIR JORDAN’S!
Porém, o foco aqui é contar a vocês como é a vida de um vendedor, então vamos lá!
A primeira coisa que sou obrigado a dizer é que nem tudo é o que parece. É ótimo estar rodeado de muitos dos melhores tênis o dia inteiro e poder falar sobre o tema a toda hora, contudo, ao mesmo tempo em que temos acesso a tudo, não temos acesso a nada.
Calma que eu explico!
A Artwalk é uma empresa que prega a transparência e por esse motivo, assim como todas as empresas sérias no mercado, a prioridade sempre será o cliente. Então esquece esse papo de que a gente pode pegar o tênis antes de todo mundo! As coisas não funcionam assim.
A mídia divulga a quantidade de pares disponíveis para determinado lançamento e, quando a loja abre, essa mesma quantidade deve estar à venda. Isso quer dizer que não posso comprar o meu a não ser que o modelo não venda dentro de determinado período.
Infelizmente muitas pessoas confundem as coisas e de alguma maneira usam dessa amizade com o vendedor para tirar algum proveito, seja com informação ou com a compra antecipada do produto. Como meu trabalho em loja é a minha fonte de renda, isso não acontece. Já tive casos de pessoas que se diziam amigos, entretanto, após não conseguir determinado par, não me dirigiu mais a palavra. É triste, mas a gente também aprende a conviver com isso!
Então pense bem antes de pedir aquele favorzinho para o vendedor, POR QUE ISSO PODE CUSTAR O EMPREGO E O SUSTENTO DA FAMÍLIA DO VENDEDOR QUE VOCÊ TEM CONTATO!
E além de tudo isso, você tem que ter em mente que vender é o seu trabalho e de onde você tira seu sustento e dinheiro para também comprar seus tão amados e desejados tênis. Existem metas a serem batidas e muito trabalho árduo no dia a dia, tanto operacional quanto no salão de vendas. Além disso, há trabalho aos finais de semana, feriados, loucuras de fim de ano e horas de trabalho em pé.
Então se você acha que é só estar rodeado de lançamentos todo final de semana e nada mais, você pode estar na profissão errada.
Entenda da seguinte forma:
A porcentagem de sneakerheads que você vai atender não chega a 1% das pessoas que passam pela loja no dia a dia. Então antes de amar tênis, você precisa gostar de vender! Costumo dizer que a minha função não é atender os sneakerheads, mas sim transformar pessoas comuns em sneakerheads!
Como uma pessoa que coleciona tênis, penso que tenho como obrigação no processo da venda informar sobre todos os atributos do modelo, como tecnologia, história e por aí vai. Esse tipo de explicação já se tornou habitual e faz parte do meu método de venda.
Então respondendo à pergunta do título: EU SOU VENDEDOR E DEPOIS SNEAKERHEAD!
O principal benefício que a profissão me dá por ser sneakerhead é de conhecer pessoas do meio e sempre poder falar sobre experiências causadas nessa jornada de colecionar tênis. Uma grande parte das melhores amizades foi de contatos que iniciaram na loja e falados sobre tênis. Hoje a relação cliente e funcionário já não existe, mas sim uma intimidade entre amigos e de pessoas que têm uma paixão em comum!
Um termo muito usado há um tempo atrás, dizia o seguinte: Não importa se você tem um ou cem pares de tênis, o que te faz sneakerhead é a sua relação com cada um desses pares. Então quando eu digo que meu papel é fazer de pessoas comuns tornarem-se sneakerheads, é isso que quero dizer!
Se você for até a loja você não vai sair só com uma sacola, você vai sair com uma história para contar. Assim fico ainda mais feliz com meu trabalho!